- Quem Jesus foi? E quem Jesus não foi?

 

Quem Jesus foi? E quem Jesus não foi?

Prefácio

Cheguei ao Seminário Teológico de Princeton em agosto de 1978, saído da faculdade e recém-casado. Tinha uma edição bem gasta do Novo Testamento em grego, sede de conhecimento e não muito mais do que isso. Nem sempre havia sido apaixonado pelo estudo. Ninguém que me conhecesse cinco ou seis anos antes teria previsto que eu seguiria a carreira acadêmica. Mas eu tinha sido fisgado pelo espírito acadêmico em algum momento na faculdade. Imagino que tenha sido originalmente no Moody Bible Institute, em Chicago, um seminário fundamentalista que começara a frequentar bem jovem, aos 17 anos. Lá meu interesse acadêmico foi alimentado não tanto por curiosidade intelectual, e mais por um desejo religioso de certeza.

Estudar no Moody foi uma experiência intensa. Fui para lá porque tiverauma experiência de “renascimento” no ensino médio e decidira que para ser um cristão “sério” precisaria estudar profundamente a Bíblia. E, de algum modo, algo aconteceu em meu primeiro semestre na faculdade: eu me tornei um apaixonado — até mesmo arrebatado — em minha busca de conhecimento sobre a Bíblia. No Moody eu não apenas fiz todos os cursos possíveis sobre Bíblia e teologia como também decorei livros inteiros da Bíblia por conta própria. Estudava em todos os momentos livres. Li livros e fiz anotações em palestras. Quase toda semana eu virava a noite me preparando para as aulas.

Três anos assim mudam a vida de uma pessoa. Certamente fortalecem a mente. Quando me formei no Moody, fui para o Wheaton College com o objetivo de conseguir um diploma em literatura inglesa, mas continuei a me concentrar intensamente na Bíblia, fazendo cursos de interpretação e ensinando a Bíblia toda semana para crianças em meu grupo de jovens na igreja. Além disso, aprendi grego, para poder estudar o Novo Testamento no original.

Como um convicto cristão confiante na Bíblia, eu tinha certeza de que ela, em todas as suas palavras, tinha sido inspirada por Deus. Talvez tenha sido isso o que me levou ao meu estudo intensivo. Aquelas eram as palavras de Deus, o comunicado do Criador do universo e Senhor de tudo, ditas a nós, pobres mortais. Certamente a coisa mais importante da vida era conhecê-las intimamente. Pelo menos para mim. Entender mais profundamente a literatura me ajudaria a compreender aquela obra literária em especial (daí minha formação em literatura inglesa); ser capaz de lê-la em grego me ajudou a conhecer as palavras exatas do Autor do texto.

Já no meu primeiro ano no Moody decidi que queria ensinar sobre a Bíblia. Depois, em Wheaton, me dei conta de que era muito bom em grego. Assim, meu passo seguinte já estava praticamente traçado: eu faria um doutorado em estudos do Novo Testamento, trabalhando especialmente alguns aspectos da língua grega. Meu adorado professor de grego em Wheaton, Gerald Hawthorne, me apresentou à obra de Bruce Metzger, o mais reverenciado estudioso de manuscritos bíblicos gregos do país, que lecionava no Seminário Teológico de Princeton. Então, me candidatei a Princeton sem saber nada — absolutamente nada — sobre o lugar, a não ser que Bruce Metzger lecionava lá e que, se eu quisesse me especializar em manuscritos gregos, era para Princeton que eu tinha que ir.

Acho que eu sabia uma coisa sobre o Seminário de Princeton: não era uma instituição evangélica. E, quanto mais ficava sabendo sobre ele nos meses anteriores à minha mudança para Nova Jersey, mais nervoso ficava. Soube por amigos que Princeton era um seminário “liberal”, que não defendia a verdade literal e a inspiração verbal da Bíblia. Meu maior desafio não seria puramente acadêmico, ter que alcançar um desempenho suficientemente bom nas turmas de mestrado para conseguir o direito de cursar o doutorado, mas me agarrar à minha fé na Bíblia como a inspirada e inequívoca Palavra de Deus.

Assim, eu fui para o Seminário Teológico de Princeton jovem e pobre, mas apaixonado, preparado para enfrentar todos aqueles liberais com sua visão aguada da Bíblia. Como bom cristão evangélico, estava pronto para demolir quaisquer ataques à minha fé bíblica. Eu podia responder a qualquer aparente contradição e solucionar qualquer potencial discrepância na Palavra de Deus, fosse no Antigo ou no Novo Testamento. Eu sabia que tinha muito a  aprender, mas não iria aprender que meu texto sagrado tinha algum equívoco.

Algumas coisas não aconteceram como planejado. O que realmente aprendi em Princeton me fez mudar de ideia sobre a Bíblia. Não mudei a maneira de pensar com boa vontade — fui derrotado gritando e esperneando. Orei (muito) por causa disso e lutei (de forma extenuante) contra isso, resistindo com todas as minhas forças. Mas ao mesmo tempo pensei que, se tinha um verdadeiro compromisso com Deus, também precisava ter um compromisso real com a verdade. E após um bom tempo ficou claro para mim que minha antiga visão da Bíblia como a revelação inequívoca de Deus era absolutamente equivocada. Minha escolha era me agarrar a uma visão que eu tinha descoberto estar errada ou seguir em frente até onde acreditava que a verdade estava me levando. No fim, não era uma escolha. Se algo era verdade, era verdade; caso contrário, não.

Ao longo dos anos conheci pessoas que disseram: “Se minhas crenças não correspondem aos fatos, pior para os fatos.” Nunca fui uma dessas pessoas. Nos próximos capítulos tentarei explicar por que o estudo da Bíblia me obrigou a mudar de ponto de vista.

Esse tipo de informação é relevante não apenas para acadêmicos como eu, que dedicam a vida a pesquisas sérias, mas a todos que se interessam pela Bíblia — considerem-se eles crentes ou não. Na minha opinião isso é realmente importante. Seja você crente — fundamentalista, evangélico, moderado, liberal — ou descrente, a Bíblia é o livro mais significativo da história da civilização. Entender o que ela realmente é, e o que não é, é uma das mais importantes empreitadas intelectuais à qual qualquer um em nossa sociedade pode se entregar.

Alguns dos leitores deste livro poderão ficar muito desconfortáveis com as informações que ele apresenta. Só peço que, se esse for o seu caso, faça o que eu fiz: receba-as com a mente aberta e esteja disposto a mudar caso isso seja necessário. Se, por outro lado, você não encontrar nada chocante ou desagradável no livro, só peço que relaxe e aproveite.

Sou muito grato a uma série de leitores atentos e perspicazes que percorreram meu original e insistiram vigorosamente — não em vão, espero — para que eu o modificasse em certos pontos a fim de melhorá-lo: Dale Martin, da Yale University; Jeff Siker, da Loyola Marymount University; minha filha, Kelly Ehrman Katz; meus alunos de faculdade Jared Anderson e Benjamin White; um perspicaz leitor da imprensa e meu editor muito preciso e valioso na HarperOne, Roger Freet.

As traduções da Bíblia Hebraica (Antigo Testamento) para o inglês[1] são da New Revised Standard Version (NRVS); as do Novo Testamento são da NRSV ou minhas; as citações dos padres apostólicos são minhas.

Dedico este livro à minha neta Aiya, de dois anos, que é perfeita em todos os sentidos.

[1] Na edição brasileira, utilizamos a Bíblia de Jerusalém, Nova edição, revista e ampliada, São Paulo:

Paulus, 2002. (N.E.)

🙏👉Leia o Livro aqui



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